Prefácio

Palavras para quê quando as imagens valem por mil? Por isso serão poucas as que se seguem, apenas as necessárias para realçar o valor emotivo das fotografias que João Freitas, em boa hora, reuniu nesta obra, acrescentando muitas da sua autoria, numa justa homenagem ao seu avô estufeiro, de quem herdou o nome e o amor pela cultura do ananás. Fruto ex-libris, há mais de um século, da ilha de S. Miguel, em parceria com a beleza da sua paisagem, destacando as lindas lagoas, também elas passando, presentemente, por um período existencial difícil.
Misto de arte e ciência, muitas vezes empírita, a cultura do ananás encontra nos estufeiros, com o seu carinho e dedicação, a principal razão da sua longevidade de cerca de 150 anos. Naturalmente, sem esquecer que a tenacidade de uma plêiade de empresários que durante o primeiro século iniciaram a cultura, em estufas de madeira cobertas de vidro, abriram um Banco, uma Caixa Agrícola, criaram uma Companhia de Navegação e empresas exportadoras, tudo para ultrapassarem os desafios que esta produção sempre nos habituou.
É a herança destes exemplos e legado patrimonial, que hoje nos faz continuar a lutar pelo Ananás dos Açores e a tentar encontrar alento para ultrapassar as actuais difículdades.
Nas páginas que se seguem, certamente que encontrarão fotografias que ilustram bem as práticas de cultivo, actuais e outras já desaparecidas ou substituídas pela evolução, mas que permitirão evocar e perpetuar imagens que só, por vezes, a memória fixa e o tempo as faz esquecer.
A finalizar, apenas de referir que o autor João Freitas, nascido em Ponta Delgada em 1962, recebeu o entusiasmo pelo cultivo do ananás nas visitas às estufas, na sua infância, que fez acompanhado o seu avô, naturalmente do pai, ficou-lhe a arte da fotografia, iniciando muito novo a sua carreira profissional, em 1982, nos jornais Açoriano Oriental e mais tarde no Correio dos Açores, exercendo, presentemente, a sua actividade como freelancer.A maior parte das fotografias que compõem esta edição, produto do seu profissionalismo, coragem e persistência e, mesmo com escassos apoios, forma expostos no Restaurante Casa Marisca (Maio de 2002), em Ponta Delgada; no Convento de S. Francisco (Julho de 2002), em Vila Franca do Campo; na Casa dos Açores do Norte (Janeiro de 2003), no Porto; na Casa dos Açores do Algarve (Abril 2004), em Faro e no Parlamento Europeu (Abril 2005), em Bruxelas.
Para uma cultura que no mínimo demora dois anos até se colher o fruto e, não fossem suficientes as razões supracitadas que levaram à edição desta obra, bastaria o seu contributo histórico para justificar, merecer e enaltecer o seu trabalho - o seu testemunho.Termino, pois, felicitando-o por esta nobre iniciativa, com a tradicional expressão rural - BEM HAJA!

Rui Guilherme Pacheco